segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Mais alguns tons...

Bem, terminei os dois primeiros livros da trilogia 50 tons de Cinza. E posso afirmar, com muita convicção, que eu estou morta de cansaço pela Anastácia, protagonista dos romances... É tanto sexo (duas ou três vezes por dia, quase todo santo dia!!!!!) que eu fiquei exausta por ela. Como eu mencionei no post anterior, o vocabulário é tão fraquinho, que começou a ficar chato "reler" todas as narrativas porno-eróticas (dá uma sensação de que estou lendo de novo a mesma transa...). Mas o que me trouxe aqui para falar sobre o livro não está no livro em si, mas em um comentário que li em algum site por aí: alguém descreve o livro como "o pornô das mamães". Eu fiquei com a pulga atrás da orelha com a expressão claramente preconceituosa em relação às mulheres que optaram por construir uma família. É como se uma mãe não tivesse mais o instinto sensual e sexual que qualquer mulher saudável, em idade reprodutiva tem. Parece que parir é fato que irá, de vez, colocar a vida sexual na gaveta. Sabe-se que é difícil ter uma vida sexual ao estilo Grey/Steele com filhos em casa. Mas mesmo quem não tem criança em casa não anda transando toda hora, em todos os lugares, usando tantos apetrechos e tudo mais, por aí. Esse é outro ponto interessante que me levou a refletir ainda mais sobre o veneno implícito no comentário: o sexo comum, de todo dia, sem acessórios, brinquedos e fantasia, é menosprezado, como se só o sexo selvagem, cheio de incrementos fosse responsável por validar a satisfação sexual de uma mulher, principalmente se ela não é mãe. É interessante essa forma que boa parte da sociedade vê o "sexo baunilha", como algo que não satisfaz, enquanto que o sexo só é, de fato, fora de série, se tiver algum tipo de "estranhice", em algum nível... Interessante que no segundo livro da trilogia os protagonistas vem mostrar justamente o oposto disso: à medida que vão ficando íntimos e se apaixonando mais, a fantasia sado-masô vai deixando de ter espaço, e o Christian, que antes só conseguia fazer sexo na relação Dominador/Submissa, descobre um prazer muito maior no sexo comum, só pele, bocas e... química. Acho que o/a jornalista que criou a expressão precisa repensar o mundo, as mães, as mulheres e a sexualidade feminina, independente de idade, estado civil, status familiar, etnia, classe social, nacionalidade, e tudo o mais...

segunda-feira, 5 de novembro de 2012

Os primeiros tons de cinza

Há algum tempo, um amigo publicou um post no Facebook sobre uma crítica pra lá de elitista detonando a trilogia "Cinquenta tons de cinza". Eu, na época, sequer sabia do que se tratava. Depois de um tempo, vi que a revista Veja (argh!) publicou uma matéria de capa para falar do reboliço que esses livros têm provocado. Mais uma vez, eu estava no meu estado de ignorância a respeito do que se tem chamado de fenômeno. Foi aí que eu fiquei sabendo o que era... E não me interessei nem um pouquinho, pois sado-masoquismo nunca foi minha praia (parafraseando a tradução de Steele e Grey). Aí, passado mais um tempinho, minha madrasta vem até mim, toda serelepe, com olhinhos agitados e acesos, me dizendo que eu "tinha" de ler. Eu falei para ela que não curtia essa coisa de sádico, etc e tal... Mas ela não se abateu. Sábado, fui almoçar na casa do meu pai. Antes de ir embora, mais uma vez, vem minha madrasta, cheia de excitação, e com dois dos três livros na mão. Foi logo dizendo assim: "Olha, eu ainda não comprei o terceiro, mas já li os dois primeiros, e você tem de ler... Você vai amar!". Resumo da ópera: Das 455 páginas do primeiro livro, já li pouco mais de 130. Sim, os relatos detalhados das relações dão uma quenturinha. Sim, é bonzinho de ler. Mas,só... Voltando ao post de meu amigo no Facebook, alguém comentou que só mesmo uma fã de Stephanie Meyer para escrever melhor do que ela. Discordo. Meyer parece ter mais riqueza de vocabulário, embora isso possa ser também um problema da tradução. Além do mais, há momentos em que eu me sinto relendo "Crepúsculo". As semelhanças são muitas: a protagonista branquela, de cabelos castanhos, que não se sente segura e acha que o cara é a melhor coisa do mundo, e que ela é muito menos do que ele; o protagonista que parece um "deus" todo poderoso, que pode tudo, que consegue tudo, que é rico, que é lindo, etc; garçonetes que se incomodam por não serem notadas pelo "deus"; carros caros, velozes, chiquerérrimos, casas maravilhosas; ausência de problemas corriqueiros, como contas a pagar, médicos a serem marcados, etc e tal; frases que se repetem (tanto Edward Cullen quanto Christian Grey andam "franzindo o cenho" com uma certa frequência). Bem medido e bem pesado, parece que os tons de cinza de James são uma versão erótica de Bella e Edward. Convenhamos: um homem (sádico, diga-se de passagem) que consegue fazer uma virgem de 21 anos (que não conhece o próprio corpo) ter 2 orgasmos com penetração na primeira vez é tão irreal quanto um vampiro!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Válvula de escape

Eu acho que é uma das funções mais primordiais dos amigos, ouvir e dar suporte aos seus. É por isso que quando algum amigo me liga ou quer conversar, eu ouço. É evidente que, com minha boca grande, faço meus comentários, tento aconselhar, consolar, dizer algo que ajude, que acalme, que conforte. Apesar de pensar assim, eu não consigo ligar para meus amigos para pedir para conversar e desabafar. Sei lá o motivo... Acho que tenho medo de que não me entendam, que me julguem, de alguma forma, que façam críticas sobre a forma como eu me sinto. Pelo menos, isso já aconteceu antes, e eu passei a me recolher, quando estou mal. Nesta semana, eu captei de uma pessoa que amo muito, muita informação negativa. ela tá cheia de problemas. Tá "encalacrada" até a alma... Problemas no trabalho, problemas na família, problemas financeiros... Eu escutei, tentei acalmá-la, dei todos os meus melhores conselhos... No final, ela rechaçou tudo. Eu não sei se foi porque nada do que eu disse sutiu efeito, ou se é porque a energia dela tava muito "dark", a verdade é que hoje eu queria ter com quem conversar. Eu queria poder desabafar. Contar tudo, gritar, esbravejar... Guardei pra mim, e tive uma crise de choro em meio ao engarrafamento das 8:00 horas da manhã. Minha cabeça está doendo, agora. Uma sensação de impotência se instalou...

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Sujeitos assujeitados.... "Maria vai com as outras" ou o quê?

Existe algo, que eu nem sei definir, em Análise do Discurso, que diz, mais ou menos, que tudo o que pensamos ser nosso texto, nossa opinião, nossas ideias, na verdade, não são. Nem sei se isso é um conceito ou um fundamento. O que sei é que somos "assujeitados" porque somos levados a adotar ideias, ideologias e conceitos dos outros... Isso me fez pensar que somos altamente influenciados pelas palavras alheias. Criamos conceitos, adotamos padrões, muitas vezes sem conhecer. E por que estou trazendo isso hoje pra cá? Bem, eu fui, pela primeira vez à cidade de São Paulo há duas semanas. E foi uma surpresa!!!! Em primeiro lugar, não fui como turista. Estava concentrada em ir só para ver o show da minha banda favorita (Dream Theater). Minhas expectativas eram duas: aproveitar o show ao máximo e não esperar nada da cidade... A culpa é de Caetano!!!! Culpa de frases como "Chamei de mau gosto o que vi, de mau gosto, mau gosto" e "Porque és o avesso do avesso do avesso do avesso"! Mesmo depois de analisar e verificar que de tantos avessos, chega-se no "direito", eu tinha a impressão de que São Paulo era uma cidade pra lá de horrorosa. E fui pra lá acreditando que ia ver o que costumamos chamar de "ó do borogodó"! Muita gente ratificou essa imagem, com depoimentos sobre suas experiências em Sampa... E eu, que cheguei com os olhos cautelosos do que poderia ver, me deslumbrei com a selva de pedra... Passando por baixo de um viaduto, de onde meu marido apontava para algum lugar que não consegui identificar, me encantei com o céu azul, as flores colorindo o espaço misto de arquitetura antiga e prédios modernosos. Meu marido apontava: " Ali em cima é a Paulista. Tá vendo aquilo ali, vermelho? É o MASP"... Não consegui ver, porque tudo era muito melhor do que eu havia imaginado. Arcos, vidros, concreto, céu de brigadeiro, flores de cores intensas... verde! Tudo junto, desmentindo o avesso do avesso. E a temperatura de 17°C inundou minha alma... eu não queria mais sair dali... Se não fossem meus filhos me esperando aqui, talvez nem tivesse voltado. Convenceria meu esposo a ficar por lá mesmo, clandestinos. É certo que não vi a cidade toda, não conheci o furdunço diário... Mas andei pelos lugares que fui, não como turista, mas como alguém que sabia onde estava. Andei de trem, andei de metrô... Depois de algumas estações, já me sentia em casa. Tive medo de ser mal-tratada, porque outra coisa que costumam falar sobre São Paulo é que os paulistas não gostam de nordestinos... Fui esperando que algo assim acontecesse. Tirando um chinês estressado numa lojinha da Liberdade (antes de terminarmos de perguntar quanto custava um produto, ele já vinha dizendo que era 38!!!!), e uma galera que me olhou feio na Galeria do Rock, devido à minha busca por algum produto da franquia Glee (pra minha filha de 12 anos!), acho que fui tratada normalmente em todos os lugares onde estive. Amei São Paulo! Alguma coisa acontece no meu coração...

segunda-feira, 6 de agosto de 2012

Dream Theater mood

As coisas estão mudando. Não dá para avaliar ainda se as mudanças estão tendendo para o bem ou para o mal. Acho que nunca é para o mal, se você não pretende fazer mal a alguém. Sinto-me, porém, fazendo mal a mim mesma, me contorcendo comigo na incerteza, na indecisão, na dúvida, na angústia. Acho que eu já desisti dessa coisa toda de gastronomia. Meu marido costuma dizer que eu nem tentei. Sim, é verdade. Eu, de fato, nunca trabalhei em nenhum restaurante. Fiz um evento aqui e ali. Tive medo de assumir outros maiores e para pessoas que não conhecia. Desisti sem tentar. Talvez eu esteja arranjando desculpas para esconder meu medo de tentar e falhar. Mas ao mesmo tempo, é verdadeiro o meu desejo de poder estar perto dos meus filhos enquanto eles crescem. E não é novidade que aquele que trabalha com comida, via de regra, não tem fim de semana, feriado nem dia santo. Muitos dos meus instrutores do SENAC não passam o Natal e Reveillon com suas famílias, pois estão no restaurante, servindo. Por mais que eu ame comida, cozinhar e servir, não há dúvida de que amo muito mais meus filhos, seus sorrisos e a alegria que demonstram em estar comigo. Não quero perder isso! Não quero perder a adolescência de minha boneca. Não quero estar longe nos momentos de desilusão, nas angústias. Não quero perder nada! Não quero deixar de ver meu moleque crescer,aprender a andar de bicicleta sem rodinha, jogar algum esporte novo, se apaixonar pela primeira vez. Eu quero estar presente! Tem gente que diz que é possível, mas eu não acredito. Bem, de qualquer forma, estou desistindo, sentindo um certo alívio em desistir. E a desistência vem com uma nova proposta, uma nova tentativa, para continuar exatamente onde estou. Estou me agarrando, com muito medo, na minha velha e conhecida profissão de professora. Estou morrendo de medo de voltar para a sala de aula! Mas é o que eu já conheço. Se de alguma forma é novo, também não é tão estranho assim! E assim, eu estou murcha, estou me sentindo péssima comigo mesma, porque sou covarde para tentar. Sou medrosa o suficiente para abrir mão de tentar algo que pode ser um sonho. Só que eu nem tenho mais certeza disso. Então, com a convicção minada, abro mão de sonhar. Boto meus pés no chão, me agarro à velha tábua de salvação, adio planos. Um dia, quem sabe, eu não me liberto de mim mesma e tento de verdade? Trilha de hoje: Wither, do Dream Theater. A letra fala por si só... But I feel I'm getting nowhere / And I'll never see the end / So I wither / And render myself helpless / I give in / And everything is clear / I breakdown / And let the story guide me / / I drown in the hesitation / My words come crashing down / And all my best creations / Burn into the ground / The thought of starting over / Leaves me paralyzed /

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Life's true intend needs patience

Vem em ondas, ora brandas, quase afagando minhas pernas, ora tsunamis destruidoras. Essa dúvida constante não passa. De tanto estar presente, parece que eu me tornei ela. Viramos algo uno. Eu sou a personificação do "não sei". Eu simplesmente não sei o que vou fazer da minha vida. Há 18 anos atrás eu não sabia responder. Passaram-se quase duas décadas, e a pergunta continua sem resposta. O que você vai ser quando crescer? Eu não sei. Nunca soube. Continuo no escuro. Quis ser tantas coisas, mas todas pela razão errada. Agora eu busco encontrar essa verdade. O que eu quero ser, pela razão certa. E tentando encontrar uma resposta, uma enxurrada de novas perguntas desabam em mim: Existe alguma verdade? É um fato que todas as pessoas saibam, no fundo de suas almas, o que querem fazer da vida? Será que querer e dever podem andar de mãos dadas? E se o que eu quero for impossível, simplesmente porque me falta talento? Eu tenho competências para fazer o que quero? Eu tenho coragem? Será que eu realmente quero isso? Por que parece que o que eu queria há três anos já não me apetece mais? Algum dia eu vou descobri o que vim fazer nesse mundo? Labirintos... névoas... eu mesma me persigo... E me escapo. A verdade me escapa. E meu ídolo, Myung, me diz que é preciso paciência para entender a verdadeira razão da vida. "Sometimes all I want to do is wait"....

quarta-feira, 23 de maio de 2012

Eu não me lembro...

Da última vez que estive aqui, eu falei de um relacionamento antigo, de quase 20 anos atrás, que me marcou muito. Minha mãe costuma me falar sobre como eu reajo ao mencionar essa história. Ela disse que eu preciso soltar a mágoa que ficou e dar lugar às lembranças boas. Reolvi trabalhar melhor isso, porque essa é a maior mágoa que ainda carrego em mim. Nem mesmo o fato de ter sofrido abusos na infância me machucam tanto quanto me lembrar daqueles 17 meses de namoro. É óbvio que foi preciso muito tempo de terapia para que os abusos não me machucassem mais. Creio até que já perdoei "os abusadores". Mas essa história... É tudo muito esquisito, porque quando paro para pensar na razão disso, sequer consigo identificar. Se me pergunto se gostaria de tê-lo na minha vida ainda, a resposta é imediata. Um "não" imenso ecoa na minha mente. Sinto que não seríamos felizes juntos nem se quiséssemos tentar novamente. E sinto que eu não o quero por perto. Mas ainda persiste um gosto amargo de rejeição. Ainda me vejo perguntar o porquê de tudo ter se acabado. Frases ditas, cenas rápidas de um romance que acabou. A eterna dúvida se, por parte dele, houve de fato algum sentimento. Eu só queria saber. Parece que ficou uma lacuna enorme. Talvez ela um dia se preencha com a onisciência de quem morre e pode ver o passado novamente e o futuro, ligando todas as pontas. A verdade é que eu não me lembro. Não me lembro de nós dois. Não sei como éramos. Não sei se ele foi feliz ao meu lado, ainda que por pouco tempo, antes de eu me tornar doentia. Não me lembro de grandes gargalhadas. Só lembro daquela arritmia que se sente quando o chão falta aos seus pés. Eu me sentia assim diante dele. Eu sentia que meu coração não queria ficar em mim... Era como se meu coração quisesse fugir do meu peito e ir para as mãos dele. Isso doía tanto, porque naqueles meses, eu não era o suficiente para mim mesma. Ele ia embora, meu coração morria. E eu me matava um pouco a cada dia. Será que a mágoa se baseia em como eu vejo que não era amor, mas sim uma doença? Será que essa mágoa é apenas minha auto-crítica, condenando minhas atitudes, me repreendendo por não ter sido mais raçuda, mais eu, mais independente? O que será que provocou isso? Questiono-me se isso não foi o resgate de algum karma, tão antigo quanto a própria história de todos os amores do mundo. Agora, com quase 34 anos, me parece tão injusto que eu tenha sentido algo tão violento sozinha. Eu realmente gostaria de saber se houve alguma sinceridade quando ele dizia "Eu te amo". Ele dizia muito, olhando nos meus olhos. Ele via uma espécie de mancha azul, como uma linha, na parte inferior da minha íris cor de mel. Meu marido, no entanto, que é a pessoa que sei que mais me amou nesta vida, nunca a viu. As perguntas jorram E a angústia de não sabê-las responder faz de tudo o que passou uma névoa negra sobre uma época em que eu deveria ter sido imensamente feliz. E no fim, eu não me lembro... eu não me lembro de como éramos, como fomos... Eu não me lembro de ter sido feliz ao lado dele, e ainda assim, naquela época, eu não queria viver sem ele. Preciso me perdoar por isso.

sexta-feira, 11 de maio de 2012

Exorcisando demônios

Autoanalisar-se é um exercício doloroso... é preciso coragem para fazê-lo, porque não há ninguém para mediar o processo ou dar uma outra perspectiva dos fatos, dos sentimentos, das ações. Eu não sou psicóloga, portanto, essa seção é absolutamente intuitiva e confessional. Não acredito que eu vá chegar a alguma conclusão ao fim do desabafo. Eu estou trabalhando arduamente para construir minha autoestima. Falo em construir porque tenho a sensação de que, nesta vida, ela nunca existiu. Talvez, na infância, quando isso é apenas uma semente que trazemos, ela tenha sido espisoteada e não tenha germinado. Talvez eu nunca venha a saber o que realmente ocorreu. Então decidi que tenho que trabalhar este momento, o "agora". Revirando o baú da memória, resgatando momentos em que minha autoestima pareceu a chegar a um nível abaixo de zero, revi o meu relacionamento mais intenso, a paixão mais avassaladora que vivi. Ao contrário de outras paixões passadas, essa não deixou a sensação de carinho pela pessoa ou pela relação em si. Só pude identificar as dores daquela época e como o que parecia o maior amor do mundo passou a ser uma mágoa de peso colossal na minha alma. Aos poucos tenho processado isso, porque se eu guardar por mais tempo, vou acabar desenvolvendo um câncer. Antes de contar a história, é preciso deixar claro que não há mais nenhuma paixão pela pessoa. Eu não consigo imaginar minha vida ao lado dele porque somos como óleo e água. Embora na época parecesse que tudo se casava, hoje eu vejo que sofri mais do que fui feliz, porque ele não era quem eu queria que fosse. Eu devo ter sido um pesadelo na vida dele: insegura demais, controladora demais, dependente demais. Sim, eu tive uma boa parcela de culpa pelo fracasso da relação. Eu tinha expectativas que iam além da realidade. Eu queria o conto de fadas, a fantasia de que uma paixão com aquela força fosse correspondida na mesma proporção e, mais ilusão ainda, que durasse para sempre. Mas ele parecia me escapar. Como eu só queria estar com ele e mais ninguém, eu queria que ele desejasse o mesmo. Os amigos, os jogos de RPG, os shows de rock... sem mim... tudo era motivo de eu começar a enlouquecer achando que ele não voltaria mais, que ele não telefonaria mais. Sim, eu fui a pior namorada do mundo! Tenho certeza de que isso é um dos motivos de toda essa mágoa. Eu me anulei por completo porque parecia que era melhor estar sofrendo naquele relacionamento do que ficar sem ele. Eu me rebaixei, deixei que ele me humilhasse, que ele me manipulasse, que me machucasse porque ele sabia que eu aceitaria qualquer condição para estar com ele. Lembrar desse relacionamento é o mesmo que sentir raiva de mim mesma por ter permitido tudo isso, por ter sido tão passiva e não ter me dado nenhum valor. Consigo ver claramente eu me envergonhando pelas minhas origens, pela minha bagagem cultural que ele tanto menosprezava por ser filho de inglês e ter nacionalidade inglesa. Lembro que mesmo quando brigávamos, e eu ficava super magoada com a frieza com que ele me tratava, eu não conseguia dizer "Vá embora, me deixe em paz! Eu não quero falar com você!". Eu me fiz ser "um nada" porque achava que ele era tudo de bom que poderia acontecer na minha vida. Eu não sei quando vou me perdoar por ter deixado tudo acontecer como aconteceu. Eu não sei se vou conseguir, um dia, perdoar esse cara que se aproveitou das minhas inseguranças, da minha própria infantilidade, afinal, eu tinha 15 anos. Mas agora, a lama de toda essa história está em minhas mãos, e eu quero limpá-la.

quinta-feira, 10 de maio de 2012

Em busca dos "insólitos" perdidos

Quando eu estava no segundo semestre do curso de Letras, eu fiz uma disciplina chamada Teoria da Literatura I. Embora fosse "I", não era a primeira Teoria da Literatura. Mas foi a primeira e única disciplina em que precisei fazer prova final. As poucas coisas de que me lembro sobre essa disciplina são essas: nela, trataríamos de prosa, deveríamos fazer uma pesquisa sobre Paul Valèrie - que por não ter sido feita me rendeu a tal prova final - e a palavra "insólito". Tivemos aulas e mais aulas sobre esse tal insólito. É óbvio que a primeira coisa que fiz, diante do palavrão, foi ir ao dicionário saber do que se tratava. E era mais ou menos o que eu tinha imaginado. Na minha humilde mente, de forma simplista e simplória, insólito é aquilo que é inusitado, aquilo que quebra com algumas expectativas óbvias. Antes, entretanto, fiquei na aula, fazendo cara de inteligente, tentando fingir que tudo aquilo estava muito íntimo das minhas concepções e de meus conceitos. Ao longo da disciplina, senti que ele é mesmo muito importante para a literatura. Mais! Parece que ele é muito importante para o toda e qualquer arte e, é evidente, para toda a intelectualidade. Tempos depois, percebi que o insólito me traumatizou de tal forma que passou a ser "A arca da Aliança" da minha vida. Há poucos dias, percebi que as pessoas, e eu estou no balaio, buscam valorizar as "insoliticidades" de suas vidas. É óbvio que isso interfere no que eu escolho fazer, em quem escolho ser, em como vou me portar. Por que, simplesmente, não podemos ser apenas óbvios, comuns e mediocres? Vivemos como se quiséssemos que nossas vidas fossem filmes-cabeça, daqueles de Ingmar Bergman, que só são exibidos nas salas de Artes. Cada momento estranho ou bizarro é um quadro novo a ser pintado. Nosso caminhar ganha trilha sonora. O dia a dia gera a sonoplastia típica do cinema nacional, de carros, buzinas e talheres tinindo nos pratos. Como nos filmes-cabeça, os insólitos nascem e se vão em detalhes mínimos, em instantes de insights relampejantes que não provocam finais hollywodianos. Ninguém nunca me confessou querer viver uma vida de cinema ou de romance. Mas se eu vejo que os dilemas e angústias são os mesmos, porque a forma de projetar isso não seria? Enfim, estamos todos buscando tudo aquilo que nos tire do lugar comum. O curioso é que a busca gera o efeito contrário, na maioria dos casos. Seria tão mais fácil se o insólito ficasse encapsulado somente na arte.

segunda-feira, 16 de abril de 2012

O que as pessoas querem do Facebook?

Hoje eu vi duas coisas no Facebook que me levaram a mais uma seção de filosofia barata só para passar o tempo num engarrafamento.
Primeiro, li uma suposta matéria na qual se dizia, muito genericamente, que o criador da rede, Mark Zuckerberg, não estava satisfeito com a qualidade da participação dos brasileiros. Segundo a matéria, por um lado, o cara estava feliz por haver tanta gente no Brasil utilizando a rede social, mas, por outro lado, cada vez mais os brasileiros estavam "orkutizando" (não é que inventaram isso?!)o Facebook, com essas postagens com mensagens de autoajuda, textos de teor religioso-catequisatório, etc e tal. Na matéria, havia até a informação de que o Mark, junto com sua equipe, estaria elaborando um manual de comportamento para que o público brasileiro não estrague o Facebook.
Aí, logo em seguida, eu vi a atualização de status de uma amiga, em que ela falava que o Facebook deveria se chamar "Egobook".Havia alguns muitos comentários concordando com ela e escrachando aqueles que usam não só o FAcebook mas também o Twitter, para ficar informando coisas bobas sobre si mesmas. Houve um comentário que satirizava aquelas outras pessoas que vão atualizando seus status, falando que comeram tal coisa, que foram ao banheiro, que fizeram isso ou aquilo.
Bem, minha primeira reação, como boa pessoa insegura que sou, foi pensar: "Eu me encaixo nesse perfil?" É claro que deveria ter pensado logo em seguida: "Que se foda se eu me encaixar nesse perfil! E daí?" Mas não foi isso que passou na minha cabeça. Eu comecei a pensar na utilidade do site e quais as expectativas de quem o está usando. Particularmente, uso o Facebook para estar em contato com as pessoas que conheço, já que a vida que tenho, atualmente, e até mesmo minha natureza de eremita, me impedem de sair e encontrá-los frequentemente. Através dele, fico sabendo do que se passa na vida dessas pessoas, ou pelo menos sobre o que pensam, sem precisar ligar e perguntar. Às vezes, tento usar o site para saber da opinião dessas pessoas sobre algum assunto ou mesmo para perguntar coisas (como no dia em que estava estudando para a prova de Enologia, Drinks e Aperitivos). Neste último caso, raramente obtenho resposta. Vejo um bocado de coisa chata, como aquelas mensagens religiosas que me irritam e, principalmente, as chacotas contra os times de futebol que perderam alguma coisa, independente de qual time foi (ODEEEEEEIO FUTEBOL). Quando topo com algo assim, passo reto, desço direto para a próxima atualização. Vejo algumas besteiras que me fazem rir, assisto a alguns vídeos que me pareçam interessantes...Também acabo sabendo mais sobre a vida da minha filha do que ela está disposta a me contar. Enfim. Para que mais serviria? Os convites para participar de jogos e aplicativos, ignoro por completo... Nem me abalo em tentar ver como funcionam. Aplicativos, só meus dois joguinhos favoritos: Mahjong e Bubbles.
Entretanto, o que percebo por parte de muitos amigos e ex-colegas de faculdade é uma constante pressão para que sejamos sempre eternamente altamente intelectualizados. Sempre vejo que algumas pessoas postam críticas sobre o que está acontecendo na TV ou sobre alguma polêmica que está rolando por aí. E aí eu me questiono: muitas dessas pessoas levantam bandeira em defesa de causas de igualdade social, discriminalização disso e daquilo (causas que eu também defendo), mas na hora de lidar com a diversidade do uso do Facebook, o discurso empena. Acham um besteirol que alguém fale sobre o que fez ou vai fazer; são extremamente intolerantes quando contrariados em suas opiniões. Se o que anda aparecendo na página principal é um desfile de coisas que não vão enriquecer o dia do intelectual, exclua a postagem. Peça para aquela história não aparecer. Se a pessoa responsável pela tal postagem é recorrente, é só bloqueá-la ou mesmo excluí-la. Se a tal pessoa não é inteligente o suficiente para que possa figurar então na página de atualizações de um intelectual, porque essa pessoa está na sua lista de amigos?
Talvez eu seja suspeita para falar, afinal, fugi da vida acadêmica, não aguentando a pressão de ser intelectual. Uma vez, meu marido e eu estávamos discutindo sobre isso. Ele faz parte do perfil que acha que as discussões e postagens no Facebook deveriam estar num nível mais elevado. Eu retruquei que se eu quisesse ficar filosofando numa rede social, teria escolhido continuar com minha vida acadêmica e fazer o doutorado. E se a intenção dessas pessoas é que haja um espaço público para debates de alto nível, seria melhor que as redes sociais passassem a ser temáticas ou com finalidades específicas, como ocorre com a tal da Linkdin (acho que é assim que se escreve). Infelizmente, a pressão para ser intelectual e inteligente, e parecer super cool falando sobre o assunto polêmico do momento é um "pouco demais" para mim, que estou em busca de leveza. Mas, como eu não quero ser como os intelectuais radicais do Facebook, que passam a ter um discurso discriminatório, acho ótimo que eles estejam lá para trazer sempre uma polêmica diferente, que não vai mudar a vida de ninguém.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Mais do mesmo

Eu já mencionei o meu atual emprego. E agora ele nem me incomoda mais como costumava me incomodar. Antigamente, eu me indignava com tudo o que acontecia nele. Eu achava que as únicas coisas pelas quais valia a pena estar ali eram os fatos de que eu tinha colegas maravilhosos e de que não tinha de lidar diretamente com os alunos, além de poder cumprir com meus compromissos financeiros. Isso não mudou, mas toda a parte negativa deixou de ser uma muralha que me impedia a vista de paisagens. Hoje eu me sinto como uma enfermeira cuidando de um doente terminal. Quando cheguei aqui, isso era algo pequeno, ocupava apenas três ou quatro andares de um prédio de 11 andares. Já fazem quase 6 anos. Nos anos seguintes, a coisa cresceu. Dos 11 andares do prédio, apenas dois não eram "nossos". Só de andares destinados aos professores, para que elaborássemos nossas aulas e materiais de trabalho, havia quatro. Chegou ao ponto de que não era possível encontrar computadores e cadeiras suficientes nesses quatro andares para que pudéssemos trabalhar. De segunda a sexta, manhã, tarde ou noite, a qualquer momento em que se chegasse aos andares, estavam lotados. Começamos com três estúdios de transmissão via satélite. Logo, três viraram seis, que, em seguida, chegaram a nove. Setores e mais setores eram criados para coordenar tamanho empreendimento educacional. Houve um momento em que nem os 9 andares eram suficientes, salas e mais salas foram alugadas em outros prédios do mesmo bairro. Era uma coisa "mega". E foi tão rápido e tão grande, ou tão grande e tão rápido, que começou a ruir. Hoje eu não sei onde o fim começou. Talvez, ele estivesse esperando, desde o começo, como um organismo vivo, que nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre. Só que muito depressa , levando muitas outras vidas para caminhos diferentes. Hoje não há mais nenhuma sala fora do prédio. Dos nove andares de antes, só tenho certeza de que restam cinco. A qualquer momento em que se chegue em um dos dois andares reservados aos professores, é possível encontrar computadores e cadeiras disponíveis. Raramente fico na sala dos professores, como costumo chamar o andar em que trabalho, com mais de cinco colegas, professores de diversos cursos. Parece que tudo está mesmo morrendo. Os meus colegas mais queridos não estão mais aqui. Hoje estão trabalhando em lugares muito melhores. Com certeza estão mais felizes do que antes. Eu estou aqui, esperando o fim, tal qual a enfermeira que assiste um moribundo. O muro que antes me impedia de ver o mundo adiante, agora, é uma cerquinha a ser derrubada com um único pontapé. Diante dela, eu espero.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A morte e eu

Eu ainda estou de luto. Meu tio faleceu no dia 30/12/2011, em consequência de um câncer. Fiquei sem saber o que escrever, o que dizer, não só aqui no meu confessrionário, como para mim mesma... Eu acho que senti um certo alívio com a partida dele, porque eu sei que ele estava sofrendo muito. Enfim, ele descansou. Era um homem bom. Trabalhador, honesto, excelente pai, carinhoso com todos que o cercavam, parentes ou não. Sabe aquele tipo de homem que tem uma voz mansa? Que te dá uma sensação de que voce pode confiar nele? Esse era meu tio Edson. Não se via ele metido em brigas, discussões. Tinha seus hábitos, suas manias, como quando resolvia cozinhar... Normalmente, num sábado ou domingo em que fosse para a cozinha, bebia conhaque, pinga... E o cardápio não era mais leve do que as bebidas: feijoada, rabada, sarapatel. Enfim, ele se foi. Eu fiquei impressionada com isso, com o fato de que não estamos livres de termos um ente querido arrancado de nosso convívio por causa de uma doença, de um acidente, de uma fatalidade. E nenhum conhecimento sobre religiões que eu tenha me acalma o espírito quando eu penso no fato inexorável de que um dia todos morreremos. Talvez eu não tenha tanto medo de morrer quanto tenho pavor de perder aqueles que amo. Enquanto sigo tentando me tornar uma pessoa mais conformada com o ciclo natural da vida, meus sonhos com água continuam, indo e vindo... Para mim, água é morte... Sempre que tenhos esses sonhos com água, alguma menção à morte se faz... Acordo com o coração a saltar pelo peito, como se quisesse fugir de mim. É estranho, eu sei... Mas é um dado que não posso ignorar. Quando fazia terapia, contei à psicóloga sobre esses pesadelos. São pesadelos com lugares inundados, como num mundo pós-apocalíptico... Eu sempre preciso ir a algum lugar, mas tudo está cercado de água. Ela me perguntou se eu sabia como tinha sido a gravidez de minha mãe, quando eu estava na sua barriga... Não pude esconder que sabia que minha mãe pensou em aborto ao descobrir que estava grávida de mim. Ela, minha psicóloga, então me disse que meus sonhos estavam ligados a esse risco de ter morrido ainda na barriga de minha mãe, dentro da água. Meus últimos sonhos com morte e água tiveram até tsunami... Acordo chorando... Tenho pavor. E mesmo sabendo que não posso mais ser abortada, a água ainda é um elemento ameaçador para mim. A morte, essa sombra, prefiro não pensar nela.