segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

A morte e eu

Eu ainda estou de luto. Meu tio faleceu no dia 30/12/2011, em consequência de um câncer. Fiquei sem saber o que escrever, o que dizer, não só aqui no meu confessrionário, como para mim mesma... Eu acho que senti um certo alívio com a partida dele, porque eu sei que ele estava sofrendo muito. Enfim, ele descansou. Era um homem bom. Trabalhador, honesto, excelente pai, carinhoso com todos que o cercavam, parentes ou não. Sabe aquele tipo de homem que tem uma voz mansa? Que te dá uma sensação de que voce pode confiar nele? Esse era meu tio Edson. Não se via ele metido em brigas, discussões. Tinha seus hábitos, suas manias, como quando resolvia cozinhar... Normalmente, num sábado ou domingo em que fosse para a cozinha, bebia conhaque, pinga... E o cardápio não era mais leve do que as bebidas: feijoada, rabada, sarapatel. Enfim, ele se foi. Eu fiquei impressionada com isso, com o fato de que não estamos livres de termos um ente querido arrancado de nosso convívio por causa de uma doença, de um acidente, de uma fatalidade. E nenhum conhecimento sobre religiões que eu tenha me acalma o espírito quando eu penso no fato inexorável de que um dia todos morreremos. Talvez eu não tenha tanto medo de morrer quanto tenho pavor de perder aqueles que amo. Enquanto sigo tentando me tornar uma pessoa mais conformada com o ciclo natural da vida, meus sonhos com água continuam, indo e vindo... Para mim, água é morte... Sempre que tenhos esses sonhos com água, alguma menção à morte se faz... Acordo com o coração a saltar pelo peito, como se quisesse fugir de mim. É estranho, eu sei... Mas é um dado que não posso ignorar. Quando fazia terapia, contei à psicóloga sobre esses pesadelos. São pesadelos com lugares inundados, como num mundo pós-apocalíptico... Eu sempre preciso ir a algum lugar, mas tudo está cercado de água. Ela me perguntou se eu sabia como tinha sido a gravidez de minha mãe, quando eu estava na sua barriga... Não pude esconder que sabia que minha mãe pensou em aborto ao descobrir que estava grávida de mim. Ela, minha psicóloga, então me disse que meus sonhos estavam ligados a esse risco de ter morrido ainda na barriga de minha mãe, dentro da água. Meus últimos sonhos com morte e água tiveram até tsunami... Acordo chorando... Tenho pavor. E mesmo sabendo que não posso mais ser abortada, a água ainda é um elemento ameaçador para mim. A morte, essa sombra, prefiro não pensar nela.