quinta-feira, 10 de maio de 2012

Em busca dos "insólitos" perdidos

Quando eu estava no segundo semestre do curso de Letras, eu fiz uma disciplina chamada Teoria da Literatura I. Embora fosse "I", não era a primeira Teoria da Literatura. Mas foi a primeira e única disciplina em que precisei fazer prova final. As poucas coisas de que me lembro sobre essa disciplina são essas: nela, trataríamos de prosa, deveríamos fazer uma pesquisa sobre Paul Valèrie - que por não ter sido feita me rendeu a tal prova final - e a palavra "insólito". Tivemos aulas e mais aulas sobre esse tal insólito. É óbvio que a primeira coisa que fiz, diante do palavrão, foi ir ao dicionário saber do que se tratava. E era mais ou menos o que eu tinha imaginado. Na minha humilde mente, de forma simplista e simplória, insólito é aquilo que é inusitado, aquilo que quebra com algumas expectativas óbvias. Antes, entretanto, fiquei na aula, fazendo cara de inteligente, tentando fingir que tudo aquilo estava muito íntimo das minhas concepções e de meus conceitos. Ao longo da disciplina, senti que ele é mesmo muito importante para a literatura. Mais! Parece que ele é muito importante para o toda e qualquer arte e, é evidente, para toda a intelectualidade. Tempos depois, percebi que o insólito me traumatizou de tal forma que passou a ser "A arca da Aliança" da minha vida. Há poucos dias, percebi que as pessoas, e eu estou no balaio, buscam valorizar as "insoliticidades" de suas vidas. É óbvio que isso interfere no que eu escolho fazer, em quem escolho ser, em como vou me portar. Por que, simplesmente, não podemos ser apenas óbvios, comuns e mediocres? Vivemos como se quiséssemos que nossas vidas fossem filmes-cabeça, daqueles de Ingmar Bergman, que só são exibidos nas salas de Artes. Cada momento estranho ou bizarro é um quadro novo a ser pintado. Nosso caminhar ganha trilha sonora. O dia a dia gera a sonoplastia típica do cinema nacional, de carros, buzinas e talheres tinindo nos pratos. Como nos filmes-cabeça, os insólitos nascem e se vão em detalhes mínimos, em instantes de insights relampejantes que não provocam finais hollywodianos. Ninguém nunca me confessou querer viver uma vida de cinema ou de romance. Mas se eu vejo que os dilemas e angústias são os mesmos, porque a forma de projetar isso não seria? Enfim, estamos todos buscando tudo aquilo que nos tire do lugar comum. O curioso é que a busca gera o efeito contrário, na maioria dos casos. Seria tão mais fácil se o insólito ficasse encapsulado somente na arte.

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